sábado, 9 de março de 2013

ANABOLIZANTES, FALSA SENSAÇÃO DE SAÚDE


Aumento de massa muscular, diminuição de gordura, ganho de força e maior disposição para as tarefas do dia a dia. Os efeitos da suplementação de hormônios anabolizantes são um apelo irresistível para homens e mulheres que sonham com um corpo perfeito e para quem deseja retardar as consequências da passagem do tempo. Mas se é fato que em curto prazo pode haver melhora na estética e na energia de seus usuários, a médio e longo prazo o uso indiscriminado de hormônios anabolizantes sintéticos pode trazer graves problemas de saúde.

Os hormônios anabolizantes são produzidos pelo corpo e têm a função de promover a incorporação de nutrientes às células. Os principais são a insulina, produzida pelas células beta do pâncreas; o hormônio do crescimento, produzido pela hipófise, e os hormônios sexuais (testosterona, estrógeno e progesterona), produzidos pelas gônadas.

A produção de cada um deles varia de acordo com a idade. O hormônio do crescimento, por exemplo, tem seu auge no início da adolescência, enquanto os derivados da testosterona apresentam seu pico na fase adulta. A queda na produção dos hormônios anabolizantes ocorre gradativamente com o avanço da idade. É um processo natural, que desencadeia alterações físicas e emocionais. Mas, ainda que em menor quantidade, todos eles continuam a ser secretados até o fim da vida.

"Não existe motivo para suplementar nenhum tipo de hormônio anabolizante em indivíduos saudáveis", diz o Dr. Paulo Rosenbaum, endocrinologista do Einstein. A indicação só é feita após avaliação médica e em situações específicas, como nos casos de deficiência na produção ou recepção desses hormônios. Diabéticos devem receber suplementação de insulina, assim como os portadores de hipogonadismo, a baixa produção de hormônios sexuais, resultante, entre outros fatores, da remoção dos testículos e ovários. Outras indicações para a suplementação hormonal visam à recuperação de pacientes portadores de longas enfermidades ou que permanecem acamados por muito tempo e que, consequentemente, perdem massa muscular e óssea, além de sofrerem com a redução de libido e de energia.

O tratamento é feito apenas após a realização de exames laboratoriais de dosagem hormonal. "A reposição deve ser fisiológica, ou seja, em doses suficientes apenas para fazer com que os níveis dos hormônios voltem à normalidade", explica o Dr. Ricardo Botticini Peres, endocrinologista do Einstein.

A produção de hormônios anabolizantes sintéticos começou há mais de 50 anos e ganhou grande impulso nos últimos 25, sendo que até hoje a apresentação injetável ainda é a predominante.

Perigo à vista

Ao promover o ganho de massa muscular e óssea, associado à maior força, disposição e libido, os hormônios anabolizantes começaram a ser vistos como uma alternativa aos esportistas e praticantes de atividades físicas para a melhoria do desempenho. Para essa finalidade, são utilizados principalmente os hormônios sintéticos derivados da testosterona: nandrolona, estanozolol, androstenediona, dehidroepiandrosterona, oxandrolona, oximetolona, dihidrotestosterona e metiltestosterona.

Paralelamente, ampliou-se sua utilização para fins estéticos, especialmente por frequentadores de academia de ginástica e pessoas empenhadas em retardar ou reverter sinais e sintomas do envelhecimento. "Não existe nenhuma comprovação científica de que a suplementação hormonal promova essa reversão. Os efeitos supostamente positivos observados no curto prazo podem se transformar em graves problemas no médio e longo", destaca o Dr. Paulo Rosenbaum.

Hoje, os perigos potenciais do uso indiscriminado fazem com que a suplementação de hormônios anabolizantes para fins estéticos seja totalmente contraindicada. O Conselho Federal de Medicina proíbe a medicina antienvelhecimento e normatiza a reposição hormonal. Em esportes profissionais, a prática é proibida e pode levar seu usuário a ser permanentemente banido das competições da sua modalidade. No Brasil, não há estimativas sobre seu uso ilícito, mas segundo informações da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, sabe-se que o usuário preferencial tem entre 18 a 34 anos e, em geral, é do sexo masculino.

Dezenas de produtos entram ilegalmente no País e são vendidos em academias e farmácias. Muitas das substâncias são falsificadas e acondicionadas em ampolas não esterilizadas, ou misturadas a outras drogas, a custos elevados (uma única dose pode custar R$ 1 mil). Como a aplicação é injetável e feita pelos próprios usuários ou pessoas sem qualificação, há ainda o risco de provocar doenças transmissíveis devido à contaminação de agulhas.

Onde mora o perigo

O uso indiscriminado de anabolizantes pode provocar nas mulheres o surgimento de características masculinas, como engrossamento da voz e aumento de pelos no corpo. Nos homens, pode ocasionar diminuição no tamanho dos testículos e infertilidade. Nos dois sexos, é comum a ocorrência de distúrbios de comportamento, com aumento de agressividade.

Estudos científicos sobre a relação entre doenças mais graves e uso indiscriminado de anabolizantes são praticamente inexistentes, pois a grande maioria dos usuários não admite a utilização, que quase sempre vem acompanhada de outras drogas, o que torna difícil estabelecer a causa exata do problema.

Mas em todo o mundo há relatos e evidências de que os hormônios anabolizantes podem provocar o crescimento de tumores, especialmente no fígado, intestino e pulmões, além de provocar disfunção ventricular e hipertrofia cardíaca – esta última responsável por cardiopatias que podem levar à morte súbita. "Os hormônios anabolizantes promovem a nutrição das células. Ao serem suplementados sem necessidade, provocam o desenvolvimento anormal das células, aumentando a probabilidade de crescimento de tumores, de órgãos e estruturas do corpo humano", explica o Dr. Ricardo Peres.

Alimentação saudável, boa qualidade de sono e a prática regular de atividade física ainda são considerados os melhores estimulantes para a saúde do corpo e da mente em qualquer idade. Artifícios que apontam os anabolizantes como terapia antienvelhecimento podem acabar cumprindo o que prometem de um jeito indesejável: seus usuários poderão não viver o suficiente para chegar à velhice.

Fonte: http://www.einstein.br/ Publicado em 24/01/2013

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