domingo, 9 de outubro de 2011

CIRURGIA PLÁSTICA JUNTO COM CESÁREA? PODE?

Descubra se é possível associar a cesárea com a cirurgia plástica para ter o corpo de antes da gestação

“Dr. vou fazer uma cesárea e queria aproveitar para fazer uma plastica e já corrigir o abdômen!”

Esta é uma das dúvidas de quase todas as mulheres que vêem o seu corpo modificado depois de uma ou mais gravidez. A ansiedade e expectativa de ter o corpo de antes da gestação o mais cedo possível, juntamente com a comodidade de “aproveitar a mesma cirurgia” fazem desta pergunta uma questão quase lógica. Para respondê-la, precisamos analisar alguns fatos:

Primeiramente, o melhor a fazer durante uma gravidez é engordar o mínimo necessário. Na gravidez, a pele é esticada com uma velocidade muito alta. Em nove meses, ela sofre um estiramento que em toda a vida jamais sofreu. Isso leva a ruptura das fibras elásticas, o que resulta nas temidas estrias.

Logo, o melhor a fazer é minimizar ao máximo este estiramento, para que a pele sofra menos, seja menos lesada. Um peso saudável para a mãe e filho ganharem durante a gestação são 10 kg. Isso quer dizer, entre peso do filho, placenta, líquido amniótico, inchaço, são totalizados quase 8 kg, sobrando uns 2 de sobra de gordura.

Assim, depois do parto, fica fácil retornar ao peso anterior à gravidez, visto que na prática, a mãe engordou 2 kg apenas. Hidratar bem a pele do abdômen e das mamas torna a pele menos suscetível à ruptura das fibras elásticas, e, portanto, às estrias. Todo o ganho de peso além dos 8 kg (em uma gestação normal) é pura gordura, que nada ajuda no desenvolvimento do filho e apenas prejudica a mãe. Um grande sobrepeso, pode elevar a pressão sanguinea da mãe, aumentar a glicose do sangue e até levar à eclampsia, uma complicação gravíssima.

Infelizmente, são poucas as que têm a difícil determinação de controlar o peso e chegam ao final dos 9 meses com menos de 10 kg ganhos. A maioria chega com 15 kg, ou seja, 50% a mais do que precisaria. Para perder estes indesejáveis excedentes a luta é bem maior, ficando mais difícil a cada mês que passar. É como se o corpo acostumasse com a nova forma e tomasse o sobrepeso como o peso normal. Por isso é importante retornar ao peso pré-gestacional o mais rapidamente possível, sendo o ideal em até dois meses.

Sobre a associação de cirurgia plástica abdominal e ginecológica (nisso inclui-se a cesárea, a histerectomia, outras), precisamos ponderar alguns fatores. É sabido que o risco de trombose e infecção são maiores na associação destas cirurgias.

A trombose é a formação de um coágulo, geralmente nas veias das pernas, que se forma durante ou depois da cirurgia, por falta de circulação. Se este coágulo for parar no pulmão, passa a ser chamada embolia, uma complicação potencialmente fatal.

Outro fator importante é a recuperação de uma abdominoplastia requer cuidados, como não carregar peso, não fazer esforços, ficar levemente curvada, o que tornaria a amamentação bastante difícil e desconfortável. A musculatura do abdômen após o parto também se encontra fragilizada e mais flácida devido à distensão, dificultando a avaliação do grau da plicatura (“costura”) do músculo a ser realizada.

Como abdominoplastia é uma cirurgia para retirar a pele e flacidez do abdômen, tem melhores resultados em pacientes no peso ideal e sem excesso de gordura ou inchaço. Lembrando que a grande maioria das pacientes não chega ao parto com peso ideal, mas sim em excesso. Portanto, chega-se a conclusão que estas pacientes não teriam o melhor resultado possível, caso decidam fazer a cirurgia plástica na hora do parto.

Sendo assim, não vejo motivos plausíveis em associar a abdominoplastia e/ou lipoaspiração à cesárea, pois os riscos seriam maiores e o resultado pior do que se a plástica abdominal fosse realizada em tempos diferentes, com a paciente no peso ideal.

Creio ser mais sensato esperar retornar ao peso de antes da gravidez, recuperar do parto, parar a amamentação e assim operar com mais segurança, conforto e com o melhor resultado possível. Vale lembrar que o custo da cirurgia associada não seria muito diferente das cirurgias separadas, já que a plástica não tem cobertura pelo convênio, nem da parte hospitalar.

Por Andre Colaneri,
Cirurgião plástico, graduado em medicina pela UNICAMP. Membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, reconhecido como um dos principais especialistas da área no Brasil.

0 comentários:

Postar um comentário